Sinodalidade: Caminho da Igreja nos tempos de hoje

O teólogo italiano Piero Coda, reitor do Instituto Universitário Sophia, de Loppiano, Itália, e membro da Comissão Teológica Internacional, em um artigo que foi publicado no jornal L’Osservatore Romano, em 03-05-2018, coloca em relevo a importância da sinodalidade na Igreja hoje. Apresento aqui uma breve síntese:

“O caminho da sinodalidade é o caminho que Deus espera da Igreja do terceiro milênio”, afirmou o Papa Francisco no seu discurso no dia 17 de outubro de 2015, por ocasião do 50º aniversário da instituição do Sínodo dos Bispos por Paulo VI, quando já se encaminhava para a conclusão do Concílio Vaticano II.

Uma afirmação programática e desafiadora como essa – ainda mais se enquadrada no contexto de uma Igreja interpelada à reforma de sua vida, a fim de uma saída missionária mais incisiva – não poderia deixar de receber a atenção que merece por parte da Comissão Teológica Internacional.
De fato, é verdade que o destaque da sinodalidade como “dimensão constitutiva da Igreja” é um fato que, explicitamente, é bastante recente na Igreja Católica, estando ela conectada à recepção do último concílio. Mas é igualmente indubitável que a experiência que essa palavra diz e as formas concretas de vida eclesial que a realizam afundam suas raízes no próprio evento de Jesus Cristo e na prática de vida da comunidade cristã desde as origens, como tal depois transmitida – com variações diversas ao longo dos séculos – até chegar a nós.

João Crisóstomo afirmava que “Igreja é um nome que está para sínodo”, isto é, para caminho feito juntos: porque sínodo é palavra grega composta pela proposição sýn, que significa “com”, e pelo substantivo hodós, que significa “caminho”. Os cristãos não foram chamados originalmente de “discípulos do Caminho” – que é Jesus – como atestam os Atos dos Apóstolos?
Caminho feito juntos, portanto, sob a orientação do Senhor ressuscitado, por todo o povo de Deus, na variada e ordenada pluralidade de seus membros e no exercício responsável e convergente dos diversos ministérios, dos diversos carismas, das diversas tarefas e estados de vida. … A Igreja, com efeito, é caminho juntos que contempla a reunião na assembleia, não só naquela forma fontal e constitutiva de seu ser, que é a sinaxe eucarística: quando o povo de Deus escuta a palavra e celebra o sacramento do corpo e do sangue do Senhor, pela graça do qual ele se faz presente no meio de seu povo para a salvação do mundo; mas também para discernir de tempos em tempos, à escuta do Espírito Santo, as questões doutrinais, canônicas e pastorais que, pouco a pouco, a interpelam.

Foi assim que surgiu uma ininterrupta prática sinodal do coração da experiência de fé vivida pelo povo de Deus: em nível diocesano, provincial, regional e universal. E isso em fidelidade ao princípio inderrogável de que as estruturas e os processos em que se desenvolveu esse intenso e ininterrupto dinamismo, embora marcados pela diversidade das culturas, dos contextos históricos, das sensibilidades espirituais, sempre se realizassem na referência normativa ao testemunho da Sagrada Escritura e ao ensinamento da tradição.

O conceito de sinodalidade, nesse sentido, deve ser distinguido – especifica o documento da Comissão Teológica Internacional – e, ao mesmo tempo, deve ser relacionado com os conceitos de comunhão e de colegialidade que estão no coração da doutrina eclesiológica do Vaticano II.
Em relação à comunhão, a sinodalidade explicita o modo de viver e de agir concretamente da Igreja, pelo fato de ela ser, pela graça, em seu mistério mais profundo, a participação dos discípulos na comunhão de amor do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Mas diz algo de específico também em relação ao conceito de colegialidade, pois último expressa o significado e o exercício do ministério dos bispos como membros do colégio episcopal em comunhão hierárquica com o bispo de Roma, a serviço da comunhão entre as Igrejas locais no seio da única e universal Igreja de Cristo.

O fato é que o dinamismo sinodal do qual a Igreja vive sua missão implica imprescindivelmente duas coisas: a participação e corresponsabilidade de todos os batizados e o exercício específico da autoridade que, no seio do povo de Deus e a seu serviço, é conferida aos pastores: o bispo na Igreja individual, o colégio dos bispos em comunhão hierárquica com o papa nos diferentes agrupamentos de Igrejas em nível provincial e regional, e, em forma peculiar, no nível da Igreja universal.

Se esta é, no fundo, a experiência da Igreja de sempre, a eclesiologia do Vaticano II introduziu a Igreja em uma fase nova do seu caminho que, entre as luzes e sombras, conheceu importantes aquisições nos 50 anos de sua recepção. Exige-se hoje – e é a isso que o Papa Francisco convida, em continuidade com o magistério de seus antecessores – um salto de qualidade: para despertar novamente as energias e para imaginar as formas, em fidelidade criativa ao depósito da fé, de uma pertinente e corajosa prática sinodal capaz de envolver a todos e a cada um no povo de Deus.
Enfim, a sinodalidade – o documento da Comissão Teológica Internacional não deixa de enfatizar – diz algo de essencial sobre o compromisso a tornar presente e operante o fermento, o sal, a luz do Evangelho no contexto da sociedade planetária do nosso tempo. Os eventos cruciais que se perfilam no horizonte para toda a família humana pedem um espírito e uma cultura do encontro e da escuta recíproca, do diálogo e da cooperação. … Daí a exigência de oferecer lugares e processos de adequada formação e de eficaz exercício ao diálogo e à participação. O convite de São João Paulo II para viver a Igreja como “casa e escola de comunhão” (Novo millennio ineunte, n. 43), valorizando as estruturas sinodais previstas pelo Vaticano II, e o do Papa Francisco para “iniciar processos” de “discernimento, purificação e reforma” (Evangelii gaudium, n. 30) revestem-se de um significado cultural específico também, a serviço de um exercício compartilhado da justiça e da solidariedade social em nível local e em nível global.

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