A Santíssima Virgem Maria é reconhecida como Rainha dos Mártires, pois suportou o maior martírio que se possa padecer depois das dores do seu Filho Jesus Cristo. Com efeito, Nossa Senhora foi mártir não pelas mãos dos torturadores, mas, em razão da acerba dor de sua alma, vez que muito embora não tenha o seu corpo sido dilacerado pelos golpes dos algozes, seu coração bendito, porém, foi transpassado pela Paixão de seu Santíssimo Filho, um verdadeiro martírio da alma. Ensina Santo Afonso de Ligórioque tal como a rosa que cresce por entre os espinhos, a Mãe de Deus cresceu por entre as dores. E como crescem os espinhos à medida que a rosa desabrocha, cresceram também em Maria, a Rosa Mística do Crucificado, os penetrantes espinhos das aflições (in Glórias de Maria. 25ª Edição. Editora Santuário: Aparecida – SP. 2012. P. 360). Na mesma obra, Santo Afonso explicita quatro aspectos que diferenciam o martírio da Virgem Puríssima de todos os outros martírios, sobre os quais discorremos resumidamente no presente escrito.
1) Os mártires sofreram tormentos no corpo, Maria sofreu-os na alma: Enquanto os mártires sofreram torturas no corpo por meio do fogo e do ferro, Maria Santíssima padeceu o martírio na alma. Eis porque Simeão disse-lhe no Templo, a quando da Apresentação do Menino-Deus: “e a ti, uma espada traspassará a tua alma!”.No dizer de Arnoldo de Chartres, citado por Santo Afonso, “Por ocasião do grande sacrifício do Cordeiro Imaculado, que morria por nós na Cruz, poderíamos ter visto dois altares: um no Calvário, no Corpo de Jesus, e outro no Coração de Maria. Enquanto que o Filho sacrificava seu Corpo pela morte, Maria sacrificava sua alma pela compaixão”.
2) Os mártires sofreram imolando a própria vida, enquanto Maria sofreu oferecendo a vida do seu Divino Filho: a este título, Santo Antonino (também citado pelo fundador dos Padres Redentoristas) assim preleciona:“Maria amava a vida do seu Filho muito mais do que a sua própria vida. Sofreu por isso no espírito tudo o que no corpo padeceu o Filho”. A Virgem padeceu em seu coração todos os suplícios com que viu atormentado o seu amado Jesus. Todos os tormentos, açoites, espinhos, cravos e a cruz afligiram, juntamente com o Corpo de Jesus, o Coração de Maria para lhe consumar o martírio. O que Jesus suportou no Corpo, Maria o sofreu na alma. No mesmo sentido, São Boaventura nos diz que as mesmas chagas que estavam espalhadas pelo Corpo de Jesus, se achavam todas reunidas no Coração de Maria.
3) Os mártires sofreram consolados. Maria padeceu sem consolo: Nossa Senhora não somente sofreu dores indizíveis em razão do sofrimento do Filho na Cruz, como também as sofreu sem alivio algum. Os mártires padeciam tormentos a que os condenavam os maus tiranos, o amor de Jesus, porém, lhes tornava as dores amáveis e suaves. A Virgem, entretanto, não achou consolo no amor a seu Filho e na lembrança de seus sofrimentos, pois, segundo Santo Afonso foi justamente esse padecimento o motivo de sua maior dor. Único e crudelíssimo algoz lhe foi tão somente o amor que consagrava ao Filho. De fato, todo o martírio de Maria consistiu em vê-lo, amado e inocente, sofrer tanto, em compadecer-se de suas dores. Tanto mais acerba e sem alívio lhe era a dor, quando mais o amava. Enquanto que o Martírio de São Paulo é representado pela espada e o de São Lourenço pela grelha, o martírio da Virgem Dolorosa é representado pelo Filho morto nos seus braços, magnificamente expressada pela Pietá de Michelangelo e lembrada poeticamente no antigo hino da Via Sacra “Do madeiro vos tiraram, e a Mãe vos entregaram, com que dor e compaixão, com que dor e compaixão”.
4) Maria recompensa a veneração de suas dores: Santo Afonso medita, ainda, sobre a gratidão que devemos devotar ao grande amor de Nossa Senhora por nós, fazendo-o por meio da meditação de suas crudelíssimas dores. Refere Santo Afonso que, em revelação particular a Santa Brígida, a Virgem queixou-se que muitos poucos são os que dela se compadecem, sendo que a maior parte dos homens vive como que esquecido de suas aflições. Recomendou-lhe, em seguida, insistentemente, que dessas dores guardasse contínua memória. Trata-se uma meditação de agradável odor ao Imaculado Coração da Santíssima Virgem e ao Sagrado Coração de seu Filho.
À Guisa de Conclusão:
Façamos a experiência mística de transportar-nos ao cenário da acerbíssima dor sofrida por Maria, ao ver seu Filho Sacrossanto expirando no madeiro da Cruz. E, assim, meditando sobre o profundo significado desta dor da alma que a Puríssima Virgem padeceu, unida ao sofrimento do Crucificado, possamos devotar-lhe contínuo amor e gratidão. Em humilde silêncio, concluímos com as belas estrofes do antigo Hino de Nossa Senhora das Dores, cuja memória foi vivenciada em 15 de setembro último.
Estava a Mãe Dolorosa,
Junto à Cruz lacrimosa,
Enquanto o Filho pendia.
Mãe de Jesus traspassada,
de Dores aos pés da Cruz,
Rogai por nós,
Rogai por nós a Jesus.