Temas catequéticos da JMJ Lisboa: Jovem, levanta-te

 

Introdução
Pela primeira vez o grande tema das Catequeses da Jornada Mundial da Juventude (JMJ 2023) foi refletido numa perspectiva social. O tema Central da JMJ foi “Maria levantou-se e partiu apressadamente” (Lc 1,39). Os subtemas aprofundados foram: ecologia integral, amizade social e misericórdia.
Todos os subtemas estão em profunda sintonia com os horizontes da saída de Maria indo ao encontro de sua prima Isabel. Essa atitude de Maria estimula os jovens a crescerem na sensibilidade socioambiental e serem capazes de exercício do cuidado integral, ou seja, de si, dos outros, da sociedade e da natureza. Maria também convoca os jovens a saírem de si sendo capazes de compartilhar com os outros as suas riquezas, seus dons e potencialidades, sobretudo com aqueles que vivem em condição de vulnerabilidade.

Esses três subtemas foram aprofundados a partir de referências contidas na Exortação Apostólica Christus vivit, encíclica Laudato si (sobre a nossa Casa Comum) e Fratelli Tutti (sobre a Amizade Social). Isso significa que a JMJ de Lisboa contribuiu, de certo modo, para o aprofundamento de três importantes documentos do Magistério do Papa Francisco. Enfim, a proposição de tais subtemas a partir da sensibilidade Missionária de Maria, significa que a Pastoral Juvenil para ser autêntica deve crescer na sensibilidade social, uma vez que a mesma está a serviço da promoção do Reino de Deus.

1. Ecologia Integral
A pressa de Maria indo ao encontro de uma pessoa necessitada e em condição de vulnerabilidade (Isabel era idosa e estava no sexto mês de gravidez), é sinal da sua sensibilidade humana que se transformou em cuidado para com o outro, disponibilidade, prontidão, serviço.“Maria deixou-se interpelar pela necessidade da sua prima idosa”. Não se escusou, não ficou indiferente. Pensou mais nos outros do que em si. E isto conferiu dinamismo e entusiasmo à sua vida”.

“Cada um de vós pode perguntar-se: Como reajo perante as necessidades que vejo ao meu redor?” A lentidão é sinal de pouca sensibilidade, de falta de motivação, de carência de amor, falta de sentido para a vida. É sinal da falta da empatia e compaixão… Nossa morosidade, tantas vezes, prolonga o sofrimento alheio, ou sua dor, seu mal-estar… Maria é a mestra que nos educa à pronta intervenção diante dos problemas, porque a fé nos torna ágeis. Diz o salmista que quem ama e confia em Deus tem pés ágeis como os da corça e suas mãos prontas para a batalha (cf. Sl 18,33-34).

“Perante uma necessidade concreta e urgente, é preciso agir apressadamente”. “No mundo, quantas pessoas esperam uma visita de alguém que cuide delas! Quantos idosos, doentes, presos, refugiados precisam do nosso olhar compassivo, da nossa visita, de um irmão ou uma irmã que ultrapasse as barreiras da indiferença!” Certamente milhares de pessoas não morreriam todos os dias se houvesse um socorro antecipado. O atraso, demora, a vagarosidade geram, sofrimento, prejuízo, morte… A justa pressa pode ser um ato de amor, de cuidado, de zelo!

Maria que vai ao encontro da sua prima Isabel representa a Igreja Missionária que sai em missão e leva a Palavra de Deus aos povos e às mais diversas situações de pessoas pobres, doentes, encarceradas, isoladas… Uma devoção à Nossa Senhora que não tem uma dimensão Missionária é pobre, vazia, estática, sem movimento de amor, sem imitação das atitudes, da sensibilidade e dos gestos de Maria.
Um dos grandes fenômenos de hoje que exige a nossa pressa é a situação climática do nosso planeta: tudo está interligado… os problemas ambientais são inseparáveis dos contextos humanos, familiares, laborais, urbanos, da relação de cada pessoa consigo mesma (cf. LS, 141). Onde há violência humana, lá também há violência sobre a natureza. Tudo está interligado (cf. LS,70).

2. A Amizade Social
Tanto na visita de Maria a Isabel quanto nas bodas de Caná da Galileia percebemos em Maria uma grande abertura para com as realidades sociais. Maria não é uma jovem esquisita, fechada em si e intimista. Na festa em Caná, Maria fora convidada, mas não se distrai como participante; não exige direitos de ser bem servida; mas interage, participa, contribui; está atenta a tudo, é sensível! Percebendo o problema, Maria não se faz criticista, não provoca escândalo, mas apela para quem seja mais competente, mais sábio, que tenha mais recursos… Maria apela para Jesus Cristo! Maria não é impulsiva… Não é vaidosa, não é cheia de autorreferencialidade. Maria é sensível, humilde, não sábia. Os jovens são estimulados a sair da solidão da busca de respostas para os seus problemas; é necessário o envolvimento familiar, comunitário, eclesial, social… Maria sabe trabalhar com os outros! Não se isola… Não busca aplausos…

Maria é mulher que nos educa para a parceria, para a amizade social, para a ação conjunta… Nunca desejou ser “heroína solitária”. Maria educa os servos… “Fazei tudo o que ele vos disser”… O sujeito recomendado é Jesus Cristo… Ele é o Senhor, Maria o conhece muito bem… ele tudo pode, por isso diz: “fazei tudo”. Essa atitude da jovem Maria nos fala também da necessidade do protagonismo juvenil. Quem entra na festa, fala com as pessoas, observa as necessidades, toma iniciativa, convoca colaboradores, educa para ação, encaminha processos, é uma jovem! Sim, a jovem mãe de Jesus, Maria de Nazaré. Os jovens são chamados a se exercitarem e a colocar em prática o protagonismo juvenil positivo, é sinal de maturidade.

3. Misericórdia
No terceiro dia de catequese os jovens foram estimulados a refletir sobre a prática da Misericórdia com o subtema “A sua misericórdia se estende de geração em geração” (Lc 1,50). A atitude de Maria acudindo sua prima Isabel é manifestação de transbordamento de amor. Deus é misericórdia e quem vivem em sintonia com Ele é chamado a ser misericordioso com seus irmãos superando toda forma de violência, intolerância, injustiça, dureza de coração etc. No encontro com o Pai Misericordioso, os jovens são convidados a reler o seu próprio caminho de vida, num tempo de adoração, de diálogo pessoal e de reconciliação com Deus.

Maria declara que a misericórdia divina se “estende de geração em geração”. Isso significa que Deus ama a todos os seus filhos, de todas os tempos, de todas as idades, de todas as condições existenciais… A Igreja seguindo o dinamismo do amor divino é chamada também a testemunhar essa mesma misericórdia e compaixão para com todos. Não devemos privilegiar uma categoria de pessoas, esquecendo as outras.
“De geração em geração” quer significar para nós a necessidade de crescermos na experiência de cuidado e interação com todas as gerações… A diversidade das gerações (crianças, adolescentes, jovens, adultos e idosos) que enriquece a Igreja. Não podemos imaginar a Igreja formada por uma única categoria de pessoas: só de crianças, só de jovens, só de idosos… Vivendo num mundo marcado por múltiplas formas de violências, os jovens são convocados à experiência do amor gratuito que tudo supera.

Para a Reflexão Pessoal:
1. O que impede os jovens hoje a fazerem a experiência da pressa positiva e missionária?
2. Como você percebe a dimensão social de Maria?
3. Como os jovens podem ser sinais de misericórdia para as outras gerações?

Colunistas