Um pequeno grande livro (10)

Hoje veremos o que se diz sobre profecia no livrinho “O Monge e o Pastor”, que, há dez edições, vem sendo esmiuçado aqui em “Miscelânea”.

Na carta de 9 de maio de 2020, um sábado, do pastor batista Henrique Vieira ao monge beneditino Marcelo Barros: 

“A profecia cumpre o papel de desestabilizar a opressão, desnaturalizar tragédias sociais e coletivas, chacoalhar o estado de coisas vigente, denunciar a maldade de estruturas econômicas e políticas. A profecia vem da margem, do lugar rejeitado; aparece como voz dissonante. A profecia é interpelação de Deus para suscitar no ser humano seu maior potencial. Dessa forma, desmascara todas as capas que sufocam a mente e o coração. Provoca a necessidade de mudança, por isso sempre causa desconforto. Toca na ferida para curá-la de vez. É brisa suave com força de furacão que nos transforma por inteiro. A profecia é, por essência, antissistema.”

E continua: “a profecia, tal como a espiritualidade, sempre significa ruptura com lugares estreitos para que a vida seja mais larga e plena. Nenhuma ruptura é fácil pois provoca medo e incertezas. Contudo, para o coração humilde, a profecia é boa notícia.”

E prossegue: “justamente porque chamam o presente para o futuro e porque desmascaram nossas faltas individuais e sistêmicas, os profetas não podem ter amor pelo próprio pescoço. Esse é o lamento de Jesus: profetas e profetizas enviados por Deus não tiveram compreensão e aceitação, pelo contrário, sofreram perseguição. A ditadura militar brasileira perseguiu Dom Helder, impedindo que ele falasse na imprensa. E quantos outros profetas também não foram perseguidos! Mas, irmão, não podemos deixar a profecia cair. Enquanto escrevo, busco me convencer disso e não desistir. É preciso coragem, dizia sempre Dom Paulo Evaristo Arns, outra grande referência da simplicidade amorosa do Evangelho de Jesus. O tempo em que estamos vivendo exige de nós coragem.”

Mais adiante: “A profecia tem urgência, meu irmão!”.

Quase no final dessa carta: “uma profecia livre como o vento, não confinada a doutrinas ou templos: nosso tempo pede essa ousadia.”

Você sabia, prezador leitor, que tanto você, como eu e todo cristão, somos profetas? Saibamos ser bons e eficientes profetas, isto é, fiéis porta-vozes de Deus. Que honra, mas, também, que responsabilidade.

Shalom!

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