Um pequeno grande livro (13)

Nesta edição de “Miscelânea” continuaremos a ver o que no livro “o monge e o pastor” se diz sobre a Morte.

Prosseguiremos a partir de onde, então, ficamos na carta de oito de maio de 2010, do monge beneditino Marcelo Barros ao pastor batista Henrique Vieira “a gente começa a morrer no dia em que nasce. Dados da ciência concordam com isso. Desde a concepção, o programa genético de cada pessoa já determina o seu tempo de vida, desde que não haja acidente de percurso e a pessoa não nasça num país onde, como dizia o Riobaldo, de Guimarães Rosa, (personagem do romance “Grande Sertão: Veredas”): “viver é muito perigoso.”

O mundo de hoje rompeu com essa sabedoria. A pandemia só revela isso, ainda mais, denunciando um modelo de sociedade que privatiza a saúde e por isso não consegue atender as necessidades de sua população, além da morte mal atendida em hospitais e postos de saúde.

Há atrocidade ainda maior de que as pessoas morrem isoladas, sem poder contar com a presença dos seus familiares. E, depois da morte, filhos e parentes nem podem ter a consolação da despedida presencial.

A fé nos vem em ajuda. Não nos faz sentir menos medo da morte, mas nos orienta a confiar que, como diz o cântico dos cânticos, ou dos Cantares de Salomão: “O amor é forte como a morte” (Cânticos 8,6). Jesus veio nos revelar que é mais forte do que a morte, já que é divino, pois “Deus é amor.” (1 João 4,16).

Então, para mim, como penso que deve ser para todos, o lado de lá permanece em grande mistério e não adianta ter a pretensão de querer compreendê-lo ou explicá-lo. Pessoalmente, não sou a favor de disfarçar o medo da morte ou de me iludir com atenuantes de que ela seria apenas um passo ou uma ´porta para outra dimensão. Como cristão, creio na ressurreição de Cristo, fonte e princípio da ressurreição de todos nós. No entanto, prefiro vivê-la nas mortes e ressurreições de cada dia.”

De minha parte, eu, Cláudio, a cada noite morro para, na manhã seguinte, ressuscitar. E assim minhas pequenas mortes diárias vão me predispondo aos poucos para a chegada da grande Morte, no final de minha vida. Por hoje, é só, ou é tudo. Até a semana vindoura, caso, até lá, pela mercê de Deus, eu ainda esteja por aqui.

Shalom.

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