Um pequeno grande livro (14)

Leonardo Boff

Nesta edição de “Miscelânea” veremos o que o pastor Henrique Vieira diz,na carta de 8 de maio de 2020, uma sexta – feira, em resposta à carta da mesma data, na qual o monge beneditino Marcelo Barros fala de seu medo da morte.

Com a palavra Henrique Vieira:

“Sim, irmão. Sinto medo da morte. Desculpe-me a afirmação aparentemente redundante, mas devo dizer: a morte é um grande desperdício de vida. Eu queria tanto viver em plenitude e para sempre. Sinto saudades de coisas que não vi e nem vivi, de pessoas que não conheci e de lugares para onde ainda não fui. Quero uma eternidade para ir juntando as diversas partes que me habitam e ir desfrutando das potencialidades do meu ser. Quero tanto mergulhar no oceano da comunhão e contemplar a riqueza que existe em cada ser humano! Quero tanto um lugar livre das amarras que impedem a humanidade de ser plena! Quero tanto a morte da morte e a morte do que nos faz morrer em vida:

E prossegue: “Nesta utopia reside minha espiritualidade. Não sei se é ingênuo demais, mas habita em mim um lugar que não existe, e nesse lugar a morte não tem vez. Gosto de pensar que, de alguma maneira, estamos rumando para Deus e que no coração divino seremos uma nova humanidade. Guardo em mim uma briga com a morte.”

Ainda nessa carta: “Um dia espero olhar para a morte, como irmã, como parte do ciclo vital e como entrega definitiva à vida como disse Leonardo Boff: “Não vivemos para morrer, mas morremos para ressuscitar.”

Humanizar a morte e olhar para ela com serenidade também significa preencher a vida de sentido. Quero muito, como já disse, viver o milagre do tempo presente, não ser refém do medo nem me alimentar de preocupações. Como é difícil, meu irmão.”

Euzinho aqui tomo a liberdade de acrescentar: difícil, sim, concordo. E mais que difícil, dificílimo. Mas, estando-se com Deus, o difícil se torna fácil, penso eu, e o impossível é possibilíssimo. Concorda comigo, prezado leitor?

No final dessa carta, o pastor afirma: “Quero fazer as pazes com a morte e viver intensamente a vida.” Queiramos o mesmo, amigo leitor. Shalom!

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