Um pequeno grande livro (17)

Continuemos a ver, nesta edição de Miscelânea, o que se diz sobre espiritualidade no livro “O monge e o pastor”, que aqui venho estudando, com esta, há dezesseis semanas.
Assim como, no chamado “Hino à Caridade”, no capítulo 13 da primeira carta aos Coríntios, meu padrinho de ordenação presbiteral São Paulo conceitua-a belamente, nos versículos 4 a 7, mostrando o que ela é e o que não é, o que ela faz e o que não faz, na tradução da Bíblia de Jerusalém, página 2010, – relembrando: “a caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” – o mesmo faz o pastor batista Henrique Vieira, quanto à espiritualidade, na carta de 18 de maio de 2020, uma segunda feira, endereçada ao monge beneditino Marcelo Barros. Tudo tão semelhante ao que diz Paulo sobre a caridade, que chega parecer plágio, embora, creio eu, não o seja.
Transcrevamos, literalmente, o que ele afirma:

“A espiritualidade não é arrogante, não é bélica, não persegue as diferenças nem suprime a adversidade. E sabe se deixar atravessar pelo mistério de Deus. Não é tomar Deus para si, mas ser tomado por Deus. Não é só falar de Deus mas falar de dentro de Deus a partir de uma experiência de amor. Não é se fechar na culpa, no medo e em verdades preestabelecidas, mas se abrir ao diálogo e à comunhão.”

Mas adiante, na mesma carta: “espiritualidade é uma afirmação da nossa singularidade. Quanto mais somos nós mesmos, mais somos de Deus.”
E finalizando: … “a espiritualidade se prova e se comprova no gesto concreto da solidariedade. É amando que se experimenta Deus. O fruto da espiritualidade é a compaixão, a misericórdia, o senso de pertencimento à sacralidade da humanidade e da natureza como um todo. A espiritualidade exige o cuidado com tudo o que existe. Exigência não como dever ou obrigação, mas fruto da ética do amor …” A espiritualidade pode nos deixar mais humanos.”

Se assim for – e assim o é, segundo penso, creio que acertadamente – uma pessoa que não tenha uma profunda espiritualidade, seja ela quem for, é como sopa sem sal, ou café sem açúcar. Ou, apropriando-me das palavras do grande poeta português Fernando Pessoa, um cadáver adiado que procria.

Você, meu possível leitor, quer ser assim? Caso sim, meus pêsames. Caso não, urgentissimamente escancare sua vida à verdadeira espiritualidade, deixe que ela se aproprie de todo o seu ser e o preencha por inteiro.

Shalom!

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