Um pequeno grande livro (18)

Continuemos a ver, nesta edição de “Miscelânea”, o que se diz sobre espiritualidade no livro “o monge e o pastor”, que aqui venho estudando, com esta, há dezoito semanas.
Assim como, no chamado “Hino à Caridade”, no capítulo treze da 1Corintios, o apóstolo São Paulo, meu padrinho de ordenação sacerdotal, conceitua-a belamente, nos versículos de quatro a sete, mostrando o que ela é e o que não é, e o que ela faz e o que não faz, – relembrando o que se lê, na bíblia de Jerusalém, página 2010: “a caridade é paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura seu próprio interesse, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se regozija com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta” – o mesmo faz o pastor Henrique Vieira, relativamente à espiritualidade, na carta de dezoito de maio de 2020, uma segunda-feira, endereçada ao monge beneditino Marcelo Barros. Tudo tão semelhante ao que diz Paulo sobre a caridade que chega a parecer plágio, embora, creio eu, não o seja.
Transcrevamos literalmente o que ele afirma:
“A espiritualidade não é arrogante, não é bélica, não persegue as diferenças nem suprime a diversidade. E sabe se deixar atravessar pelo mistério de Deus. Não é tomar Deus para si mas ser tomado por Deus. Não é só falar de Deus, mas falar de dentro de Deus a partir de uma experiência de amor. Não é se fechar na culpa, no medo e em verdades pré-estabelecidas, mas se abrir ao diálogo e à comunhão.”
Mas adiante, na mesma carta: “espiritualidade é uma afirmação da nossa singularidade. Quanto mais somos nós mesmos, mais somos de Deus.”
E finalizando: … “a espiritualidade se prova e se comprova no gesto concreto da solidariedade. É amando que se experimenta Deus. O fruto da espiritualidade é a compaixão, a misericórdia o senso de pertencimento à sacralidade da humanidade e da natureza como um todo. A espiritualidade exige cuidado com tudo que existe. Exigência não como dever ou obrigação, mas fruto da ética do amor.” … “a espiritualidade pode nos deixar mais humanos.”
Se assim for – e assim o é, segundo penso, creio que acertadamente – uma pessoa que não tenha uma profunda espiritualidade, seja ela quem for, é como sopa sem sal, ou café sem açúcar. Ou, apropriando-me das palavras do grande poeta português Fernando Pessoa, um cadáver adiado que procria.
Você, meu possível leitor, quer ser assim? Caso sim, meus pêsames. Caso não, urgentissimamente, escancare sua vida à verdadeira espiritualidade, deixe que ela se aproprie de todo o seu ser.
Shalom!

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