No final da edição passada de “Miscelânea” vimos que Plínio Salgado, fundador, em 1932, em São Paulo, da Ação Integralista Brasileira, desejando organizá-la nacionalmente, escolheu para isso, no Ceará, Severino Sombra, fundador da Legião Cearense do Trabalho, que não pôde aceitar esse encargo, por estar exilado em Portugal, pelo que o convite foi feito ao pe. Hélder Câmara, a Jeová Mota e a Ubirajara, Índio do Ceará, amigos de Severino. Vimos, enfim, que Severino enviou uma carta aos três, recomendando-lhes que não aceitassem o convite, por não concordar com o comando único de Plínio Salgado.
Hoje procurarei ver o que aconteceu depois. Sem mais, vamos lá.
Padre Hélder consultou seu bispo, Dom Manoel da Silva Gomes, que, após contato com Dom Sebastião Leme da Silveira Cintra, cardeal arcebispo do R io de Janeiro, autorizou-o a aceitar o convite. A partir daí Hélder tornou-se o secretário do Setor Estudantil da Ação Integralista Brasileira no Ceará. Ativíssimo, Hélder fundou grupos de integralistas e organizou manifestações, comícios e conferências, escreveu artigos sobre a doutrina integralista, tornando-se o introdutor e o maior propagandista do integralismo no Ceará. Arrastou consigo a já citada Legião Cearense do Trabalho, que se incorporou à Ação Integralista do Trabalho. Mas, apesar disso, jamais vestiu o uniforme integralista, “a camisa verde”, limitando-se a uma faixa de mescla no braço, embora a tenha usado debaixo da batina preta aberta no peito, na manifestação integralista de 12 de fevereiro de 1934.
Simultaneamente, pe. Hélder, dinâmico ao extremo, empenhou-se cada vez mais em reformas de interesse da Igreja e contra seus adversários. Destarte, ajudou a organizar congressos estaduais de educação, manifestações populares em outros estados da federação, cursos de pedagogia em prol da educação das elites, uma vez que a instituição eclesial estava criando escolas confessionais católicas no país inteiro. Durante a Conferência Nacional pela educação em Fortaleza, realizada em 07 de fevereiro de 1934, ele foi o terceiro conferencista. Nessa ocasião, defendeu eloquentemente o ensino religioso nas escolas e combateu ferozmente as ideias de Edgar Sussekind de Mendonça, em seu entender “representante do bolchevismo.” O embate verbal entre os partidários dos dois grupos chegou a tal ponto que, num encontro entre ambos, numa praça, Sussekind foi agredido.
Quanto a mim, para não agredir a paciência de alguns de meus possíveis leitores, vou ficando por aqui. Na próxima edição de Miscelânea, continuaremos a ver a trajetória de Dom Hélder Câmara. Até por lá, se o bom Deus no-lo permitir.
Shalom!