Um pequeno grande livro (23)

Continuemos a ver a trajetória de Dom Hélder Câmara, a partir de onde ficamos na edição passada aqui de “Miscelânea”.
Abandonado o Integralismo, em obediência à determinação do cardeal Leme, arcebispo do Rio de Janeiro, consta que se voltou para o Humanismo Integral, do filósofo católico francês Jacques Maritain, à época muito lido e seguido no Brasil, especialmente pelo clero e seminaristas da arquidiocese de Belém. Eu era um deles.

A título de curiosidade: Maritain era casado com a escritora Raissa Maritain, autora de “as Grandes Amizades”, livro que foi uma de minhas obras de cabeceira, durante minha mocidade.

Em 1970, ou seja, três anos antes de sua morte, pediu para ser admitido, pedido aceito, na Fraternidade dos Pequenos Irmãos de Jesus (PetisFrêres de Jesus) em Toulouse. Foi sepultado, com sua amada Raissa, em Kolbsheim.

Voltando a Hélder Câmara:
Se bem que, como vimos acima, tenha abandonado o Integralismo, em depoimento de dezembro de 1983, já quase no final de sua existência, defende os valores integralistas, chegando a afirmar que nunca se arrependeu de sua pregação. Textualmente: “eu nunca rompi com o Integralismo.” Afirma que não duvidava também da sinceridade dos integralistas, apenas se preocupava com o encaminhamento de seus membros a um totalitarismo.
Plínio Salgado, em carta de 1966 a ele, defende o Integralismo, atribuindo o encaminhamento ao totalitarismo a uma corrente direitista divergente, que se aproximava dos partidos totalitários europeus. Nessa carta, Plínio afirma que a doutrina integralista não é fascista e, sim, “espiritualista cristã, nacionalista, sem jacobinismo, preocupada com a justiça social e reforma indispensáveis para atingi-la”. E mais: “foi o Integralismo que levantou, pela primeira vez, a bandeira contra o capitalismo de Wall Street” no Brasil.
No Rio de Janeiro, Hélder teve como diretor espiritual o famoso padre Leonel Franca, criador da primeira universidade católica do Brasil, a Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Em 1939, por autorização de Getúlio Vargas, Hélder assumiu o cargo de chefe da Seção do instituto de Pesquisas Educacionais, da Secretaria Geral de Cultura.

No pós-guerra, fundou a Comissão Católica Nacional de imigração, para apoio à imigração de refugiados.
A partir de nossa próxima edição veremos sua atuação já como bispo.
Até por lá. Shalom!

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