Um pequeno grande livro (24)

Como prometi no finalzinho da edição passada de “ Miscelânea”, começaremos a ver, a partir desta, a atuação do nosso Hélder Câmara já como bispo.
Padre Hélder foi nomeado bispo auxiliar do Rio de Janeiro aos quarenta e oito anos, no dia 03 de maio de 1952 pelo papa Pio XII e ordenado, então se dizia sagrado, em 20 de abril do mesmo ano, pelas mãos de Dom Jaime de Barros Câmara, arcebispo do Rio de Janeiro e de seus bispos auxiliares Dom Rosalvo Costa Rego e dom Jorge Marcos de Oliveira.

A título de curiosidade: antes de ser transferido para o Rio de Janeiro, Dom Jaime foi arcebispo de nossa arquidiocese, o quinto, por apenas um ano: de 1942 a 1943. Ainda era nosso arcebispo quando entrei no Seminário em 1943. Não havia esse dia em que ele não fosse ao Seminário, para ver com seus próprios olhos como ia tudo, a modo um detetive, ou um cão farejador. Chegava de mansinho, para não ser notado. Ninguém no Seminário, ao que me parece, gostava dessas incursões, mas sobre elas nenhuma palavra, uma vez que ele tinha seus informantes, uns quantos seminaristas trazidos por ele de Mossoró e depois levados para o Rio de Janeiro.

Lembro-me de, certa manhã, em que nós seminaristas menores trabalhávamos, sob sua orientação na retirada de entulhos de recente construção ficada a meio, ter sido severamente repreendido por ele por falar demais: “ô menino, você fala muito. É filho da preta do leite?”

Voltando a Dom Hélder: em 1950, ainda como simples padre, entrou em contato com o subsecretário do Vaticano Monsenhor Giovanni Batista Montini, futuro papa VI, solicitando apoio a seu ambicioso plano de criação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, luminosa ideia sua, criativíssimo que ele era. Montini não só apoiou como aprovou, em 1952, a criação dessa providencial e oportuníssima conferência, salvo engano a primeira do mundo. Sua Sede era no palácio São Joaquim, palácio arquiepiscopal do Rio de Janeiro. Dom Hélder foi seu secretário Geral – um grande, eficiente e operoso secretário – até 1964.

Dom Hélder foi, sem favor nenhum, um grande promotor do colegiado dos bispos e da renovação da Igreja Católica, fortalecendo-lhe a dimensão do compromisso social.

Em 1955 ocorreu a criação do Conselho Episcopal Latino-Americano, Celam, com sede em Bogotá. Sua fundação foi durante a Primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano, realizada no Rio de Janeiro, tendo Dom Hélder como articulador. Ele participou das Conferências Gerais do Celam, como delegado do episcopado brasileiro, até 1992. Também esteve presente na segunda Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano (Medellin, 1968), na terceira, em Puebla (1979) e na quarta, em Santo Domingo (1992).

No Celam exerceu os cargos de presidente e vice-presidente.

O mais, pois que ainda o há, veremos em nossas próximas edições, se for vontade do bom Deus. Até por lá.
Shalom.

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