Um pequeno grande livro (27)

Permita-me o leitor, caso o tenha, continuar minha reconheço que longa digressão, iniciada na edição passada aqui de “Miscelânea”.

Nela, ao afirmar que um dos grandes feitos de Dom Hélder Câmara foi o 36º Congresso Eucarístico Internacional, em 1955, no Rio de Janeiro, comecei a relatar o que então me aconteceu na Praça do Congresso, graças ao meu casual encontro com Dom Mário de Miranda Villas-Boas, àquela altura arcebispo da arquidiocese de Belém. O intermediário desse providencial encontro foi o seminarista Raul Tavares, hoje cônego Raul. Terminado o Congresso, o Raul e eu fomos deixar Dom Mário no aeroporto, de volta a Belém. Depois, levado pelo Raul, meu anjo da guarda, fui procurar, na aeronáutica o, salvo engano, capitão Haroldo Veloso, conhecido nacionalmente devido às revoltas de Aragarças e Jacareacanga, para solicitar-lhe uma passagem aérea pela FAB. Ele gentilmente anotou meu nome, mas disse que só haveria voo daí a quinze dias e apenas até Santarém, mas que de lá, onde era rei, com a maior facilidade me faria chegar a Belém.

Nesse mesmo dia, ao passar com o Raul pela avenida Rio Branco, vi à entrada de uma companhia de navegação uma grande fila de pessoas, todas com cara de nordestinas e nortistas. Curiosamente aproximei-me do último da fila e lhe perguntei:
– Para que essa fila?
Sua resposta;
– Compra de passagens de terceira classe, no navio Raul Soares, que hoje, às seis horas da tarde, zarpa rumo ao norte.
O preço da passagem era exatamente a quantia que me restava, por ter gasto quase todo meu parco dinheirinho na aquisição de livros, na excelente feira realizada durante o Congresso.

A título de curiosidade: anos depois, pouco antes da segunda guerra mundial, o Raul Soares foi torpedeado em pleno porto, ao que dizem alguns, obra dos nazistas.

À tardinha lá estava eu a bordo, levado de táxi pelo Raul. Quando o navio desatracou foi que dei por mim; “Vieste para te empregar e ficar na maravilhosa e burramente estás voltando para teu finzinho de mundo”. Sem querer, pus-me a chorar copiosamente, pranto inútil, pois já era tarde.
O que me aconteceu durante a viagem, por sinal longa, pois o navio vinha parando, às vezes por dias, em todas as cidades costeiras, será o que veremos na edição vindoura, se for da vontade do bom Deus. Até por lá. Shalom!!

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