Um pequeno grande livro (30)

Minha última afirmação na edição de Miscelânea da semana passada foi que no dia 12 de março de 1964 Dom Hélder Câmara, sobre quem venho falando há várias edições, foi nomeado pela Santa Sé arcebispo de Olinda e Recife, Estado de Pernambuco, múnus que exerceu até 02 de abril de 1985, portanto por vinte e um anos. Como então anunciei, nesta procurarei ver sua atuação no Nordeste.

Lá instituiu um governo colegiado, organizando a região em setores pastorais. Criou o Movimento de Encontros de Irmãos, o Banco da Providência e a Comissão de Justiça e Paz. Fortaleceu as comunidades eclesiais de base. Estabeleceu uma clara resistência ao Regime Militar, tornando-se líder contra o autoritarismo e a favor dos direitos humanos. Não hesitou em servir-se de todos os meios de comunicação para denunciar as injustiças. Tanto no Brasil quanto no exterior, para onde viajou várias vezes, pregou uma fé cristã comprometida com os anseios dos empobrecidos. Foi muito perseguido pelos militares, a ponto de ser acusado de comunista, por sua atuação social e política. Havia quem o chamasse depreciativamente de “arcebispo vermelho”.

Após a decretação do Aí-5 negaram-lhe o acesso aos meios de comunicação social, sendo, inclusive, proibida qualquer referência a ele. Desconhecido da opinião pública nacional, fez frequentes viagens ao exterior, aproveitando-as para divulgar amplamente suas ideias e denunciar as violações dos direitos humanos no Brasil.

Tornou-se adepto e promotor do movimento de não violência ativa. Suas avançadas posições políticas ocasionaram-lhe pesadas críticas. Um de seus algozes nos meios de comunicação foi o famoso jornalista e teatrólogo Nelson Rodrigues. Uma de suas afirmações: “Dom Hélder só olha o céu para saber se leva ou não guarda-chuva.” Ao completar setenta e cinco anos, em 1984, apresentou sua renúncia em obediência ao Código de Direito Canônico. Assim, em quinze de julho de 1985 passou o comando da arquidiocese a Dom José Cardoso Sobrinho, mas continuo a viver em Recife, nos fundos da igreja das Fronteiras, onde já vivia desde 1968.

Morreu em Recife, aos noventa anos, no dia 27 de agosto de 1999. O Regional Norte II da CNBB, Arquidiocese de Olinda em Recife, o Instituto Dom Hélder Câmara, a Universidade Católica de Pernambuco e várias outras entidades promoveram homenagens a ele na comemoração de seu centenário, celebrado em 7 de fevereiro de 2009. Objetivo dessas homenagens: manter vivas sua memória e sua luta pela solidariedade e justiça social.
Recebeu muitos títulos. O primeiro, em 1969, de doutor honoris Causa, pela Universidade de Saint Louis, nos Estados Unidos, título que também lhe foi conferido por diversas universidades brasileiras e estrangeiras, como Bélgica, Suíça, Alemanha, Países Baixos, Itália, Canadá e Estados Unidos. Ao todo trinta e dois títulos. Foi declarado Cidadão Honorário de vinte e oito cidades brasileiras e da cidade de São Nicolau, na Suíça e Rocamadour na França. Nos EUA recebeu o prêmio Martin Luther king e na Noruega o prêmio popular da paz, além de diversos outros títulos internacionais.

Foi o segundo mais votado como Brasileiro do século na categoria religião pela revista Isto é e indicado quatro vezes para o prêmio Nobel da paz por seu combate à ditadura e às torturas no Brasil. A Congregação para a causa dos santos deu-lhe o título de servo de Deus em 07 de abril de 2015. A abertura do processo de beatificação realizou-se em 03 de maio desse mesmo ano na Catedral de Olinda. Na Igreja Episcopal Anglicana do Brasil já se encontra no calendário dos santos, sendo sua festa litúrgica comemorada em 27 de agosto. Ainda espero estar vivo para participar de sua canonização.
Shalom!

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