Viver o Evangelho para responder aos problemas de nosso tempo

Com frequência a sociedade se pergunta e também pergunta à Igreja sobre as soluções para a violência que se espalha. As forças de segurança desejam encontrar caminhos adequados à situação crítica em que nos encontramos. Uma vez uma pessoa se apresentou para formalizar um boletim de ocorrência e encontrou uma resposta de acomodação: você pode fazer o boletim, mas o fato se tornará apenas mais um número acrescentado nas estatísticas. Muitos grupos se manifestam, e não é raro que a exaustão em que se acham as pessoas provoque passeatas, cartazes, protestos diante dos órgãos governamentais. E não há um dia sequer sem manchetes com os crimes de grupos ou facções rivais de criminosos, milícias que se multiplicam e a respectiva resposta violenta da parte dos poderes responsáveis pelo controle de nossas cidades (cf. Dom Alberto Taveira Corrêa, artigo do dia 3 de maio de 2018). Passa o tempo, repetem-se os desafios e problemas, adiam-se as soluções, cresce a insatisfação do povo, aumenta a nossa responsabilidade.

Se voltamos as perguntas para a prática da Igreja, não só o que nos diz respeito como Igreja Católica, mas também os demais grupos de cristãos que confessam, como nós, o senhorio de Jesus Cristo Salvador, podemos dizer que há muito a fazer. Basta recordar o que o Papa Francisco propôs há alguns anos na Exortação Apostólica sobre a santidade, de permanente atualidade (Cf. Gaudete et Exsultate, 65-94), quando remeteu a Igreja e os cristãos à prática das bem-aventuranças (Mt 5,1-12), que são como que o bilhete de identidade do cristão. São as respostas e o caminho de felicidade que os cristãos podem oferecer.

“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu”. Jesus chama felizes os pobres em espírito, que têm o coração pobre, onde pode entrar o Senhor com a sua incessante novidade. Jesus nos chama a compartilhar a vida dos mais necessitados, a vida que levaram os Apóstolos e, em última análise, a configurar-nos a ele, que, “sendo rico, se fez pobre” (2 Cor 8, 9). Ser pobre no coração: isto é santidade!

“Felizes os mansos, porque possuirão a terra”. Embora pareça impossível, diante da violência reinante, Jesus propõe outro estilo, a mansidão. Disse ele: “Aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração e eu vos darei descanso” (Mt 11, 29). Se vivemos tensos, arrogantes diante dos outros, acabamos cansados e exaustos. Mas, quando olhamos os seus limites e defeitos com ternura e mansidão, podemos dar-lhes a mão e evitamos gastar energias em lamentações inúteis. Reagir com humilde mansidão: isto é santidade!

“Felizes os que choram, porque serão consolados”. O mundano ignora, olha para o lado, quando há problemas de doença ou aflição na família ou ao seu redor, prefere ignorar as situações dolorosas, cobri-las, escondê-las. A pessoa que se deixa tocar pela aflição e chora no seu coração é capaz de alcançar as profundezas da vida e ser feliz. Ela é consolada com a consolação de Jesus. Saber chorar com os outros: isto é santidade!

“Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”. Há pessoas que aspiram com intensidade pela justiça e buscam-na como quem tem fome e sede. Jesus diz que serão saciadas, porque a justiça, mais cedo ou mais tarde, chega, e podemos colaborar para torná-la possível, embora nem sempre vejamos os resultados deste compromisso. Buscar a justiça com fome e sede: isto é santidade, e é resposta a ser oferecida em nosso tempo!
“Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia”. Misericórdia: dar, ajudar, servir os outros, perdoar, compreender. O Evangelho propõe uma regra de ouro: “Tudo quanto quereis que os outros vos façam, fazei-o, vós também, a eles” (Mt 7, 12). Tentar reproduzir na nossa vida um pequeno reflexo da perfeição de Deus. Olhar e agir com misericórdia: isto é santidade!

“Felizes os puros de coração, porque verão a Deus”. O coração indica as nossas intenções, o que buscamos e desejamos, para além do que aparentamos. Deus quer dar-nos um coração novo (Cf. Ez 36, 26). E Jesus promete que os corações puros “verão a Deus”. Manter o coração limpo de tudo o que mancha o amor: isto é santidade!

“Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus”. Pensamos nas situações atuais de guerra e na onda de violência que nos assusta. Mas também é comum sermos causa de conflitos e incompreensões. Procurar, juntamente “com todos” a paz. Este é o caminho (Cf. 2 Tm 2, 22), “Procuremos aquilo que leva à paz” (Rm 14, 19), porque a unidade é superior ao conflito. Trata-se de ser artesãos da paz, porque construir a paz é arte que requer serenidade, criatividade, sensibilidade e destreza. Semear a paz ao nosso redor: isto é santidade!

“Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus”. Jesus quer nos transformar em pessoas que questionam a sociedade com a vida. Ele lembra as pessoas perseguidas por terem lutado pela justiça, vivendo seus compromissos com Deus e os outros. Se não queremos afundar na obscura mediocridade, não pretendamos uma vida cômoda, porque, “Quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la” (Mt 16, 25). A cruz, as fadigas e sofrimentos que suportamos para viver o mandamento do amor e o caminho da justiça, tudo será fonte de amadurecimento e santificação. As perseguições não são uma realidade do passado, pois hoje também sofremos, quer de forma cruenta, como os mártires contemporâneos, ou de maneira mais sutil, através de calúnias e falsidades. Para Jesus, haverá felicidade, quando, “mentindo, disserem todo o gênero de calúnias por sua causa” (Mt 5, 11). Abraçar o caminho do Evangelho mesmo que nos acarrete problemas: isto é santidade! Esta é a resposta da fé cristã. Quem se arriscar nesta estrada verá os frutos!

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