Dom Paulo Andreolli, SX – Bispo Auxiliar de Belém
Caros leitores, neste mês de julho recordamos o Dia do Amigo. A amizade é um dom de Deus, um presente precioso que enche a nossa vida de alegria e sentido por sabermos que não estamos sozinhos na caminhada e, falando sobre caminhar juntos, conto, nesta edição, com a colaboração de Ir. Ivoneide Queiroz, da Congregação das Irmãs Franciscanas de Maristela.
A Liturgia de hoje nos inspira a refletir sobre a amizade, pois traz o trecho do Evangelho de S. Lucas (10,38-42) que narra o encontro de Jesus com Marta e Maria, irmãs de Lázaro. Como sabemos, Jesus era amigo desta família. Ele costumava ir à casa deles e havia entre eles uma grande amizade.
As duas irmãs acolhem Jesus em sua casa. Marta se ocupa com os afazeres domésticos e Maria senta-se aos pés de Jesus para escutá-lo. São duas atitudes diferentes, válidas e importantes quando se recebe um amigo em casa. As irmãs revelam acolhimento, cuidado, atenção e escuta.
É importante cultivar os laços de amizade, dedicando tempo, atenção e carinho aos amigos. Elas são bem conhecidas devido a esse texto bíblico, mas também devido ao episódio em que Lázaro adoece e morre. E Jesus chorou diante da morte do amigo. Isso revela que a amizade tem um imenso valor não apenas nos momentos de festa e alegria, mas também nas dificuldades, dores ou sofrimentos. É divino encontrarmos apoio, consolo e força na companhia dos amigos.
Diante disso, é necessário investir tempo e cuidado nas nossas relações. “Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas”. Quem nunca ouviu esta frase? A raposa, no livro “O Pequeno Príncipe”, de Saint Exupéry, ensina ao menino sobre a importância de cativar, criando laços afetivos e desenvolvendo relacionamentos autênticos e duradouros. Vamos recordar essa história?
“O Pequeno Príncipe” é uma obra que foi publicada em vários idiomas e já encantou muita gente de todas as idades, e traz a AMIZADE como um tema central.
O Pequeno Príncipe, após sua pior experiência na terra, deitou na relva e chorou. Ele imaginava que possuía uma rosa que era única no universo, mas depois que viu um jardim cheio de rosas percebeu que a sua rosa não era a única no mundo, era apenas uma rosa como milhares de outras rosas. De repente ouviu um “bom dia” que o tiraria daquela tristeza. Era uma raposa que poderia se tornar sua amiga, caso ela fosse cativada.
O Pequeno Príncipe convidou a raposa para brincar com ele, que estava tão triste e sozinho, ao que a raposa respondeu: “Eu não posso brincar com você, ainda não fui cativada”. “E o que é cativar?”, perguntou ele.
Cativar é algo que as pessoas, frequentemente, se esquecem; é criar laços; é dar significado um ao outro. “Para mim, você é apenas um menino e eu não tenho necessidade de você. E você por sua vez, não tem nenhuma necessidade de mim. Para você eu não sou nada mais do que uma raposa, mas se você me cativar, então, nós precisaremos um do outro”, disse a raposa. E ainda: “Os homens não têm mais tempo de conhecer coisa alguma. Compram tudo já pronto nas lojas. Mas como não existem lojas de amigos, os homens não têm mais amigos. Se tu queres um amigo, cativa-me!”.
A raposa disse que, para isso, é necessário ter paciência e seguir um rito: “Primeiro você vai sentar a uma pequena distância de mim e não vai dizer nada. Palavras são as fontes de desentendimento. Mas você se sentará um pouco mais perto de mim, todo dia”. E, assim, o Pequeno Príncipe cativou a raposa, mas, depois,chegou a hora da partida dele. “Oh!”, disse a raposa. “Eu vou chorar”. “A culpa é sua, você mesma quis que eu a cativasse”, disse o Pequeno Príncipe. “Adeus”, disse a raposa. “E agora eu vou contar a você um segredo: nós só podemos ver, perfeitamente, com o coração; o que é essencial, é invisível aos olhos. Os homens têm esquecido esta verdade. Mas você não deve esquecê-la. Você se torna eternamente responsável por aquilo que cativa”.
A responsabilidade é o último tema levantado pela raposa ao se despedir do menino, o qual entende o recado: “Eu sou responsável pela minha rosa…”. Assim, aprendemos que a amizade verdadeira se constrói com o tempo, com dedicação, cuidado e responsabilidade. É necessário valorizar as relações que construímos e perceber que a amizade é um dom precioso de Deus.