Conversa com meu povo:

Foto: Divulgação.
 

É comum a exigência do direito de ir e vir, da parte de tantas pessoas, no conjunto da sociedade. De repente, somos constrangidos, pela situação alarmante de risco à saúde de todo o planeta, a nos recolhermos em nossas casas. Parece que este direito, considerado tão importante, nos foi tirado! É bom refletir sobre tal situação, quando nossas cidades de repente ficam vazias e silenciosas, com as famílias procurando o que fazer e como administrar o tempo das crianças, agora em casa dia e noite!

Na Igreja há homens e mulheres que, por amor a Deus e a humanidade, escolheram a vida contemplativa nas muitas clausuras religiosas existentes, inclusive em nossa Arquidiocese. Quem vai ao Carmelo, no município de Benevides, encontra irmãs jovens e outras menos jovens, todas sorridentes, felizes com a opção feita, atentas e orantes pela Igreja e pelo mundo, dispostas a atender as pessoas que a elas se dirigem, realizadas por terem feito uma escolha daquilo que foi a melhor parte, seguir o Senhor (Cf. Lc 10,38-42), tornar-se discípula, ser para-raios de oração em benefício da humanidade. Talvez alguém diga que vivem reclusas, mas não é verdade! Vivem em plena realização comunitária e religiosa!

Jesus passou por uma trama de conspirações que o conduziram a ser preso e condenado à morte. Mesmo antes de ser apresentado às autoridades que decretaram sua condenação, o Senhor “virou o jogo”, demonstrando a realização do plano de amor do Pai acontecendo em sua vida: “É por isso que o Pai me ama: porque dou a minha vida. E assim, eu a recebo de novo. Ninguém me tira a vida, mas eu a dou por própria vontade. Eu tenho poder de dá-la, como tenho poder de recebê-la de novo. Tal é o encargo que recebi do meu Pai” (Jo 10,17-18). Mais adiante, apresentado a Pilatos, este “entrou, no palácio, chamou Jesus e perguntou-lhe: ‘Tu és o Rei dos Judeus?’ Jesus respondeu: ‘Estás dizendo isto por ti mesmo, ou outros te disseram isso de mim?’ Pilatos respondeu: Teu povo e os sumos sacerdotes te entregaram a mim. Que fizeste?’ Jesus respondeu: ‘O meu reino não é deste mundo. Se o meu reino fosse deste mundo, os meus guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus. Mas, o meu reino não é daqui’. Pilatos disse: ‘Então, tu és rei?” Jesus respondeu: Tu dizes que eu sou rei. Eu nasci e vim ao mundo para isto: para dar testemunho da verdade. Todo aquele que é da verdade escuta a minha voz’” (Cf. Jo 18,33-37). Aquele que primeiro era réu se transforma no verdadeiro juiz da história! Tudo muda, quando se decide a amar e entregar livremente a própria vida.

A história da Igreja está repleta de situações nas quais acontece uma reviravolta do negativo para o positivo. E sabemos bem que a última palavra da história não será pronunciada pelo poder do mal, mas por Deus! Também as diversas calamidades pelas quais passou a humanidade foram superadas, como será superado, é o que esperamos, confiando em Deus, o quadro preocupante em que nos encontramos.

É bom recordar que todas as medidas tomadas pelas autoridades sanitárias e governativas têm como fundamento o bem comum, o que pede nossa adesão plena e obediência estrita. O isolamento social que é agora pedido redundará em bem para todos. Nenhum de nós queira se contrapor a tais medidas, sob pena de consequências drásticas para a saúde e a vida de todos. Trata-se de uma guerra contra um vírus, a ser vencida com a participação de todos!

Como “virar o jogo”? Sem nos sentirmos constrangidos a ficar em casa, tomemos posse de tal situação, não permitindo que nos seja roubado o direito de ir e vir, mas vivendo bem as limitações impostas, com toda razão, por quem de direito. Que tal aproveitar o fato de as famílias terem mais tempo com os filhos, quando o ritmo frenético de trabalho e outras atividades fazem os pais terem pouco tempo com as crianças? E este pode ser um tempo privilegiado para valorizar as relações familiares, o diálogo, a oração, a leitura orante da Palavra de Deus, a lembrança da história familiar. Há quanto tempo sua família não faz uma oração em comum? Aquelas que o fazem, sabem os efeitos maravilhosos da oração!

Surge nestes dias no Setor Juventude da Arquidiocese de Belém, e que pode servir para todas as idades, uma proposta da experiência da caridade: elaboração de propostas virtuais de integração e solidariedade, pistas de ação de incentivo aos jovens neste tempo de ausência de aulas e de trabalho, atenção aos mais idosos e enfermos, propor através das redes sociais atividades lúdicas e pedagógicas para as crianças, manifestar atenção, mesmo à distância, aos atingidos pelo Covid-19, que esperam apoio, compaixão e gentileza, promover uma comunidade conectada, telefonar aos parentes, amigos e vizinhos, criar momentos de oração através dos meios de comunicação, sugerir bons filmes, fazer atividades físicas em casa. Não é menos importante o controle da ansiedade, evitando hiper informação. E se as pessoas tiverem medo, lembrem-se de outros momentos difíceis já superados.

Além disso, é ato de caridade e de serviço ao próximo que procuremos estar bem, pois nossa alegria e serenidade poderão contagiar positivamente mais do que o vírus!

Confiemos nossas intenções a Nossa Senhora, com oração proposta pelo Papa Francisco: “Ó Maria, vós sempre brilhais em nosso caminho como sinal de salvação e esperança. Nós nos entregamos a vós, Saúde dos Enfermos, que na Cruz fostes associada à dor de Jesus, mantendo firme a vossa fé. Vós sabeis do que precisamos e temos a certeza de que garantireis, como em Caná da Galileia, que a alegria e a celebração possam retornar após este momento de provação. Ajudai-nos, Mãe do Divino Amor, a nos conformarmos com a vontade do Pai e a fazer o que Jesus nos disser. Ele que tomou sobre si nossos sofrimentos e tomou sobre si nossas dores para nos levar, através da Cruz, à alegria da Ressurreição. À vossa proteção recorremos, Santa Mãe de Deus. Não desprezeis as nossas súplicas em nossas necessidades, mas livrai-nos sempre de todos os perigos, ó virgem gloriosa e bendita. Amém”.

 

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