Sal e Luz: Não roubarás


 
 
Quaresma é período de caminhada para dentro de nós, de silêncio, de simples gestos, no olhar e no agir em prol principalmente dos que sofrem, de jejum tanto alimentar como de palavras e atos que nos afastam da disciplina necessária em buscar do céu. Quarenta dias que terminam na cruz do Rei e se abrem no horizonte vitorioso da Páscoa redentora de todo pecado. É tempo de aproximar-se dos que mais que de dinheiro ou bens precisam é de presença humana, para o resgate da dignidade inerente a todo homem e mulher, mas tanto negada aos milhares que fazem das ruas seu lar ou dos espaços diversos o desafio de viver a solidão do abandono, da dor. É tempo de conversão, recolhimento, reflexão de nossa aventura dramática por aqui e de proximidade com o Senhor, de percebermos, pois, nossa contingência, fragilidade, fugacidade: daqui só levaremos o amor que vivemos, nada mais, na esperança da misericórdia d’Aquele que nos amou primeiro, na fé que nos faz acreditar na certeza da verdadeira vida, junto a Ele, na comunhão dos santos de Deus e junto à Mãezinha do céu.
 
 É uma oportunidade excelente para adorar o Senhor, sem máscaras nem desculpas, justificativas ou fugas. Olhando o Santíssimo, percebe-se nossa pequenez, pobreza e misérias, o nada que com o Senhor é o tudo por seu amor. Experimentei isso recentemente: quase que por acaso me vi diante d’Ele e lembrei do conselho de Santo Antônio Maria Claret, que orienta a buscar uma profunda intimidade  com  Ele  por  meio  da oração .  Busquei ouvi-lO, dando -lhe boas vindas e pedi em favor dos que gostaria de ajudar, dos doentes que vejo sofrer, dos que estão nos rumos errados. Pedi também as graças de que necessito e o auxílio do Senhor para evitar o mal. Pedi humildade e sua misericórdia por todos aqueles que amo e por mim. Falei-lhe das minhas tristezas e cruzes do caminho, dos medos e da certeza de Sua amorosa providência. Fui-lhe grato, sim, e pronunciei o obrigado que brotou de dentro, de forma verdadeira. Por fim, reafirmei o compromisso com o bem e a paz, com Ele e com os irmãos.
 
 De alguma forma sentia-O muito perto. A sensação de Sua presença, indescritível, plenamente eficaz, foi preenchendo os espaços. Pessoalmente Ele estava lá na forma material do pão consagrado, imenso, possível de se testemunhar. Como é bela a nossa fé católica! Como é bela a Igreja do Pão partilhado, como entoa uma canção que fala do pão e da paz! Diante d’Ele encontrei o sentido de minha vida: sou para servir, mas sou pouco, restrito, pequeno, inútil. Só o Senhor é bom e só na sua Misericórdia é possível achar sentido para partilhar os dons que d’Ele recebi. Tudo é d’Ele, dons que precisam estar a serviço do Reino, servindo os irmãos. Creio que por isso canto, no transbordamento da alma grata que preenche e corre como rio de águas claras percorrendo caminhos diversos, invade propriedade sem licença, contorna montanhas buscando incessante o encontro com o mar de Deus. No caminho banha tudo sem obstáculos intransponíveis, força dinâmica espiritual que chega aos corações. Como irmãos que conheço, louvado seja o Senhor pelo que dá aos seus filhos para a partilha.
 
Perdi a noção do tempo, tal o refrigério da alma diante do Senhor . Quem d’Ele recebe esta alegria não tem como não buscar servir. Como no encontro com a samaritana no poço de Jacó (Jo 4, 5-30), Jesus faz de cada local onde passa uma referência do milagre da vida. Se antes o poço para aquela mulher era lugar de dor e humilhação, de fracasso nos relacionamentos, após o encontro com o Mestre, o velho poço passou a ser lugar santo do encontro com Aquele que é caminho, Verdade e Vida. Da mulher humilhada pouco restou: vida curada, sarada, restaurada, agora por certo uma missionária do amor de Deus que um dia a encontrou para restaurar sua dignidade no mais alto grau, à de imagem do Criador.
 
Desejo  a você, caríssimo (a), que esta quaresma seja de conversão, de mudança de rumo pelo jejum, esmola e  oração simples, no silêncio do encontro com Deus que leva direto ao encontro com os irmãos. É tempo de “cair em si”, tomar consciência do “para quê” estamos aqui nesta época de tantas transformações e da necessidade de testemunho. Que assim seja!  

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